Na madrugada da última sexta-feira (14), moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais receberam um alerta inesperado de terremoto no celular. O aviso informava sobre um tremor de magnitude 5,5 na escala Richter com epicentro no mar, próximo a Ubatuba (SP). No entanto, pouco depois, a Defesa Civil precisou desmentir a informação, esclarecendo que não havia ocorrido nenhum terremoto real. O alarme havia sido gerado automaticamente pelo sistema de detecção sísmica do Google Android — e era um erro.
Mas por que essa falha aconteceu? Como um sistema projetado para alertar sobre terremotos acabou gerando um falso positivo? Vamos explorar as razões por trás desse problema e entender o que o Google pode fazer para evitar novos alarmes equivocados.
Como funciona o sistema de alerta de terremotos do Android?
Desde 2020, o Google vem implementando um sistema automatizado de detecção de terremotos em celulares Android. O recurso utiliza os acelerômetros embutidos nos dispositivos para identificar tremores de terra em tempo real. O funcionamento é relativamente simples:
- Cada smartphone possui um acelerômetro, que detecta movimentações bruscas.
- Se muitos celulares em uma mesma região captam um movimento semelhante no mesmo instante, o sistema interpreta isso como um possível terremoto.
- Os dados são analisados por inteligência artificial para estimar a localização, magnitude e epicentro do tremor.
- Se o evento for considerado significativo, um alerta é disparado automaticamente para os usuários próximos.
Esse modelo dispensa a necessidade de sensores sísmicos tradicionais e pode alertar pessoas segundos antes de um terremoto real acontecer — tempo suficiente para buscar abrigo. No entanto, como o caso de Ubatuba demonstrou, o sistema ainda está sujeito a falhas.
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Por que o alerta foi um erro? As possíveis causas do falso positivo
O problema não foi uma “fake news”, mas sim um erro técnico do sistema. Vários fatores podem ter contribuído para o falso alarme:
1. Sensibilidade excessiva dos sensores
O sistema do Google depende de milhões de celulares para detectar tremores, mas se os sensores estiverem muito sensíveis, movimentos que não são terremotos podem ser interpretados como tais.
Um caso famoso aconteceu em 2021, quando um alerta falso foi emitido na Califórnia porque um grande número de pessoas estava pulando ao mesmo tempo durante um show musical. O Google teve que reconfigurar os parâmetros para evitar novas ocorrências desse tipo.
2. Vibrações artificiais confundindo o sistema
Explosões controladas em construções, tráfego pesado ou até o uso de grandes máquinas industriais podem gerar vibrações suficientemente fortes para enganar os sensores. Caso muitas dessas atividades ocorram simultaneamente em uma área específica, o sistema pode confundir esse movimento com um terremoto real.
3. Erro na triangulação de dados
Para estimar a origem do tremor, o Google analisa dados de múltiplos celulares ao mesmo tempo. Se houver um erro na sincronização ou no posicionamento dos dispositivos, os cálculos podem indicar uma magnitude e localização erradas.
Isso pode ser parecido com um GPS calculando sua posição de maneira imprecisa, levando o sistema a acreditar que um tremor aconteceu onde, na verdade, não houve nada significativo.
4. Falta de verificação com redes sísmicas oficiais
Diferentemente de sistemas tradicionais, que dependem de sismógrafos físicos operados por centros especializados, o Google emite alertas sem consultar organizações como o USGS (Serviço Geológico dos EUA) ou o Centro de Sismologia da USP.
Se houvesse um protocolo de validação prévia, seria possível cruzar os dados antes do envio dos alertas, reduzindo os riscos de alarmes falsos.
O que o Google pode fazer para evitar novos erros?
O Google já desativou temporariamente o sistema no Brasil e informou que está revisando o que pode ter causado o erro. No entanto, para que o serviço volte a operar de forma confiável, algumas melhorias precisam ser feitas:
✔ Reajustar a sensibilidade dos sensores – garantir que apenas tremores reais sejam detectados, evitando alarmes para movimentações normais do ambiente.
✔ Cruzar informações com redes sísmicas oficiais – validar os dados antes do envio dos alertas.
✔ Filtrar melhor os dados coletados – usar inteligência artificial para diferenciar movimentos naturais (como tráfego e construções) de abalos sísmicos reais.
✔ Melhorar a comunicação com autoridades locais – permitir que órgãos como a Defesa Civil validem informações antes do disparo de alertas.
Novas tecnologias estão sujeitas a falhas
A falha no alerta de terremotos do Android mostra como a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa, mas também suscetível a erros. O uso de celulares como sensores de terremotos é uma inovação promissora, mas sem um sistema de validação robusto, pode acabar gerando pânico desnecessário.
O incidente de Ubatuba serviu como um alerta (dessa vez, verdadeiro) para que o Google refine sua tecnologia e evite novos falsos positivos. Afinal, um alerta equivocado pode ser apenas um transtorno, mas a falta de um alerta real no momento certo pode custar vidas. Agora, a empresa tem o desafio de ajustar sua tecnologia para garantir que, no futuro, os avisos sejam mais precisos e confiáveis.