O carro elétrico fracassou?

A indústria dos carros elétricos ainda tem grandes desafios para se consolidar em escala global

A indústria dos carros elétricos ainda tem grandes desafios para se consolidar em escala global (Foto: pixabay)

Brasil vendeu mais carros elétricos em 10 meses do que em 10 anos; veja os mais vendidos”. Numa reportagem especial G1 com esta chamada, o artigo conta que o Brasil emplacou 136.767 mil carros elétricos e híbridos até outubro de 2024, número que é 9% maior que tudo o que foi vendido entre 2012 e 2022 (126.513) e 105,58% maior que o ano passado (66.529).

Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). “Os 100% elétricos também cresceram com força. Foram 50.787 emplacamentos até outubro, contra 9.768 veículos no mesmo período do ano passado, um salto de 419,93%”, destaca a matéria. “Pelo menos seis novas marcas chinesas estão previstas para chegar ao Brasil nos próximos meses” para investir no segmento de elétricos, anuncia Exame.

Mas esse momento fulgurante do mercado não contradiz o título dessa coluna? A chamada desafiante é um resumo da análise do mercado que faz Sergio Habib, fundador do Grupo SHC, dono do JAC Motors, no podcast Market Makers com os fundadores do canal Thiago Salomão e Josué Guedes. São “apenas” três horas de conversa, mas para quem gosta do mercado de carros, não tem desperdício.

Desafios da indústria

Carros elétricos são realmente o futuro ou apenas mais uma grande mentira da indústria automotiva?, instigam. Habbib explica que o Brasil ainda está longe de adotar os veículos elétricos em massa porque enfrenta diversos desafios. Alguns deles são próprios das limitações tecnológicas e físicas que a indústria encontra em todo o mundo. Outros surgem das carências do Brasil, como a falta de infraestrutura e uma renda per capita de 10.000 dólares que limita o acesso a carros com custos similares aos do mercado de luxo.

Os dois grandes desafios dos carros elétricos para quem já resolveu a barreira do custo alto são onde carregar e como viajar. Para quem consegue carregar em casa, é o mundo ideal. Mas há convenções de condomínios de apartamentos que não permitem a instalação de postos de recarga pelos riscos de incêndio das baterias. E as regras para a instalação desses pontos ainda estão em debate. As estações de recarga na rota são outro problema que não é exclusivo do Brasil, se não de todos os países continentais. Os pontos têm um custo alto, são escassos (10.000 para todo o Brasil), nem sempre estão em bom estado e prolongam e convertem as viagens em um sofrimento.

“O Brasil não tem dinheiro para pagar cesta básica. Vai ajudar a pessoa de renda alta a comprar carro de 200.000 reais? Não vai. É um país continental e exportador de petróleo. Não tem dinheiro para nada. Vai investir numa estrutura para carregar carro elétrico? O mercado do carro elétrico foi de 3%, está em 2% e não vai crescer. Na minha opinião, carro elétrico puro vai ser 2% daqui a 10 anos. Não vai aumentar. E ainda tem uma alíquota de importação que vai chegar a 35%. Carro elétrico é de país rico”, prognostica Habbib.

Para o empresário, o caminho correto para o Brasil é o que o governo, com o programa Mover, e as montadoras adotaram: estimular a produção do híbrido leve, que combina baterias pequenas com motor a combustão que se adapta melhor às particularidades do país e reduz o consumo e a poluição.

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