Mudança climática no ponto mais frio do planeta! Nos últimos anos, a Antártida tem enfrentado uma série de ondas de calor sem precedentes. Em 6 de fevereiro de 2020, houve registros de temperaturas de 18,3°C, as mais altas já vistas no continente. De tal forma que superou o recorde anterior de 17,5°C estabelecido apenas alguns anos antes.
Por volta de fevereiro de 2022, outra forte onda de calor na Antártida levou a um derretimento recorde da camada de gelo superficial. Em março do mesmo ano, o leste da Antártida enfrentou sua mais forte onda de calor. Isto porque sofreu com temperaturas subindo para 30°C ou 40°C acima da média em algumas áreas.
No último ano, também foi possível testemunhar os níveis mais baixos de cobertura de gelo marinho na Antártida desde o início dos registros.
Eventos recentes beiraram o inacreditável, e é difícil não relacioná-los às mudanças climáticas. De fato, estudos já surgiram que atribuem claramente algumas dessas ondas de calor ao aquecimento global. Aliás, uma das investigações sugere fortemente que, sem a influência das mudanças climáticas, as temperaturas recordes de 2020 não teriam ocorrido.
Mudança climática na Antártida
Em 2009, um estudo quantificou a velocidade de migração do ecossistema devido às mudanças climáticas em escala global e documentou essencialmente a velocidade com que certas espécies precisam se mover para garantir sua sobrevivência. Concluiu-se que os biomas estavam se movendo a uma velocidade entre 0,8 e 12,6 km por década, com uma velocidade média de 4,2 km por década.
Em um estudo mais recente, com publicação em fevereiro de 2024, essa medição de velocidade se aplicou com adaptação às bordas da Antártida. Para isso, rastreou-se a migração para o sul da isoterma de zero grau.
A isoterma de zero grau é uma linha imaginária que delimita as áreas que estão a zero graus ou menos. Seu movimento para o sul significa que a área com temperaturas abaixo de zero Celsius na Antártida está ficando cada vez menor. Dado que a água congela a zero graus, esse movimento terá sérias consequências para os ecossistemas e para a criosfera (áreas da Terra onde a água está congelada).
Os cálculos mostram que a isoterma de zero grau se moveu a uma velocidade de 15,8 km por década desde 1957 na área circundante à Antártida, enquanto na própria península antártica ela se moveu a 23,9 km por década. Como resultado, agora está a mais de 100 km ao sul de onde estava na metade do século XX.
Essas medições mostram que a velocidade das mudanças climáticas na borda da Antártida é quatro vezes mais rápida do que a média de outros ecossistemas.
Os efeitos das emissões
Para prever as consequências da migração para o sul da isoterma de zero grau, alimento-se os dados em vinte modelos climáticos diferentes. Embora haja alguma variação no deslocamento da isoterma entre os modelos, todos concordam que ela se moverá significativamente mais para o sul ao longo das próximas décadas.
Os modelos também preveem que, ao longo das próximas décadas, o movimento da isoterma se acelerará independentemente das emissões. No entanto, a extensão de seu movimento para o sul na segunda metade do século XXI dependerá de quanto carbono emitimos.
Se o ritmo atual de emissões continuar, a isoterma de zero grau continuará a avançar a uma taxa semelhante antes de desacelerar durante a segunda metade do século XXI. No entanto, se as emissões forem mais altas, a migração da isoterma se acelerará, continuando seu movimento para o sul até o final do século.
Impactos na criosfera e nos ecossistemas
O movimento para o sul da isoterma de zero grau não ficará apenas na atmosfera, também afetará a criosfera (todas as áreas congeladas da Antártida) e a biosfera (as espécies que lá vivem).
As mudanças na posição da isoterma significarão mais chuva líquida em vez de neve nas regiões mais externas do continente, embora possa, na verdade, causar aumento na queda de neve em outras áreas.
A redução na queda de neve no mar congelado – que age como isolante – pode levar à perda acelerada de gelo marinho durante os períodos de degelo no verão.
Embora os efeitos no permafrost, nas plataformas de gelo e no gelo continental ainda sejam incertos, sem dúvida afetará as geleiras periféricas da Península Antártica. Estas constituem uma das maiores fontes potenciais de aumento do nível do mar nas próximas décadas.