Carros elétricos podem ‘esgotar’ energia elétrica do Brasil?

Brasil não está preparado para uma transição imediata da frota para veículos elétricos

Brasil não está preparado para uma transição imediata da frota para veículos elétricos (Divulgação)

Se a frota brasileira migrasse totalmente de veículos a gasolina e etanol para carros elétricos, o país teria energia suficiente para carregar todos eles? Infelizmente, a resposta é não! A atual capacidade energética do Brasil não seria suficiente para suportar uma transição em massa para veículos elétricos no curto prazo.

Crise Energética e Capacidade Atual

A crise energética vivida no Brasil no 4º trimestre de 2021 mostrou as fragilidades do sistema elétrico nacional. Qualquer aumento significativo na demanda poderia causar um colapso. Hoje, com o sistema operando no limite, aumentar o consumo com milhões de carros elétricos nas ruas seria um grande desafio.

Transição Gradual para o Carro Elétrico

Felizmente, a transição para uma frota totalmente elétrica não ocorrerá de forma abrupta. A substituição dos veículos a combustão por elétricos será lenta e gradual. Mas e se essa mudança fosse acelerada? Quanto mais energia precisaríamos produzir para abastecer essa nova frota?

Quantidade de Energia Necessária

Para responder essa questão, consideramos o cenário em que todos os veículos a combustão são trocados por veículos elétricos (EV), ou seja, sem sistemas híbridos. Esses carros elétricos dependem exclusivamente de energia elétrica para funcionar. No entanto, na prática, o Brasil deve primeiramente adotar veículos híbridos, que utilizam tanto combustíveis quanto eletricidade.

O Consumo de Combustíveis no Brasil

Segundo o anuário estatístico da ANP (Agência Nacional do Petróleo), em 2020 o consumo de gasolina tipo C foi de 35,8 bilhões de litros, enquanto o de etanol atingiu 19,3 bilhões de litros. Quando convertidos para uma equivalência com a gasolina, esse consumo somado chega a 49,3 bilhões de litros anuais. Esse dado é essencial para calcular quanto de energia elétrica seria necessária para a troca da frota.

Consumo Médio do Carro Elétrico vs. Carro a Combustão

Para calcular o impacto energético, consideramos o consumo médio de um carro elétrico, que é de 6,5 km por kW, contra o consumo de um veículo a combustão, que roda 13 km com um litro de combustível. A troca de um sistema por outro demandaria uma nova usina de Itaipu operando em sua capacidade máxima.

Aumento na Demanda Energética

Com base nessas premissas, a estimativa é que a substituição de todos os veículos a combustão exigiria um aumento de 20,9% na produção anual de energia elétrica do Brasil. Isso representa um consumo anual adicional de 99.000 GWh. No dia a dia, seriam necessários mais 270 GWh por dia e cerca de 11,3 GWh por hora.

Carregamento de Carros Elétricos: Desafios no Horário de Pico

Outro fator preocupante seria a distribuição dessa demanda ao longo do dia. Caso muitos usuários optem por carregar seus carros elétricos nos horários de pico, como no início da noite, mesmo uma nova Itaipu poderia não dar conta. Por outro lado, se o carregamento for concentrado durante a madrugada, quando o consumo é menor, o impacto seria mais gerenciável.

Tarifa Branca e Incentivos para o Uso Noturno

Para equilibrar essa nova demanda, uma solução seria a adoção de sistemas de “tarifa branca”, incentivando os usuários a carregar seus carros elétricos durante a madrugada, quando o consumo de energia é reduzido. Isso poderia evitar problemas de sobrecarga e facilitar a transição para uma frota elétrica.

Aumento do Uso de Carros Elétricos

Um possível efeito colateral dessa transição é o aumento no uso dos veículos. Como o custo por quilômetro rodado em um carro elétrico pode ser até 75% menor do que em veículos a combustão, os motoristas poderiam passar a utilizar seus carros com mais frequência, o que aumentaria ainda mais a demanda energética.

Conclusão: Estamos Preparados?

A substituição da frota nacional por carros elétricos exigirá um aumento de 20% na produção de energia elétrica. No cenário atual, o Brasil não está preparado para essa mudança de forma acelerada. No entanto, com uma transição gradual ao longo de 15 a 30 anos, o país tem a oportunidade de se adaptar e expandir sua capacidade energética.

Resumo para Quem Está com Pressa:

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